Choveu muito naquela noite, os pássaros mal vieram me dar boa noite como costumavam fazer em todo entardecer. A casa cheirava a umidade fresca, o cheiro de terra sentia na garganta, será chegada a hora? Onde estarão todos de casa! Na lenha do fogão já não tinha nenhuma brasa, tratei de ir assoprar desejando chama forte, que consegui com custo, chama como esta, não tinha visto , será chegada à hora? Mas a chuva não parava; tudo tinha que esperar a chuva, nada podia parar a chuva agora. Esta também eu não tinha visto igual, uma chuva rasgada, que vinha abrindo fendas no tempo. As gotas enlouquecidas tinham mais de um palmo e brilhavam como que me chamando para rasgar com elas. Foi que vi; uma gota a altura da minha face, tinha uns dois palmos de comprimento e um de largura, brilhava branca, hora brilhava ouro, hora brilhava sangue, ela me disse venha; não disse; eu disse vá. Ela, aquela gota universal, me fez gigante dentro dela e de mim mesmo, ela me fez água junto dela, fomos banhando as folhas da mangueira, fomos para dentro da mangueira, só depois de fluir por toda ela o brilho de ouro me convidou a continuar e eu fui. De gota que fui, em novo tempo, eu era chuva, e vinha com força como eu nunca tinha visto, será chegada à hora? Brilho de sangue eu me tornei...