Quinta feira, são quase sete da manhã. Ele deixa o café pela metade, a torrada pela metade, a coluna de esporte pela metade. Só o cigarro que não, continua a fumar e vai para fora do Café para ver o atropelamento que acabara de acontecer na esquina. Um carro em alta velocidade acerta um estudante que se dirigia para a escola. 
Do estudante só sobrou metade. O motorista nada sofreu, a não ser o óculos partido. Ele dormira fora de casa, esticou a noite com uns amigos, bebeu metade de uma caipirinha e acordou na cama de uma mulata que nem metade de sua idade tinha. Vizinhos o viram partindo, muito apressadamente, só com metade das roupas.
A mulata em questão, teve tempo de, mais cedo, descobrir a traição de seu namorado. Chorou com as amigas, metade de uma caixa de lenços só nos primeiros minutos de choro. Quebrou presentes dados por ele, quebrou móveis da casa que não foram dados por ele, rasgou fotos e tirou o colar que tinha metade de um coração com o nome do Judas, que na verdade era Alberto. Saiu dali com as amigas e fez uma promessa. Dormir com o primeiro cara que dividisse uma bebida contigo.
Alberto distante de achar que a mulata te pegaria no flagra, preparou tudo praquela noite com Ledinha. Meio pacote de massa fina, meia dose de rum junto ao tempero, metade de uma garrafa de vinho, metade dos amigos sabendo da arte. No decorrer da noite, Ledinha queria ouvir o cd do Belle and Sebastian todo, era um desrespeito com o artista ouvir metade do cd somente. Ela achou Alberto impaciente, com pressa na cama, medo de algo, mas com ela não tinha dessa, não aceitava serviço pela metade. Pronto! A mulata chega e ele não dura nem meia hora na cama.
Antes da confusão, Ledinha tinha ido a aula de teatro que fazia toda a quarta à noite. Metade da sua turma vai por indicação de diretores globais e a outra metade vai por indicação de psicólogos mesmo. Mas naquele dia a aula foi interrompida pela metade, o professor teve que sair mais cedo após um telefonema. Ledinha sem nada para fazer , resolve atender ao pedido de Alberto que lhe enviava mensagens via telefone.
O professor de teatro sai em disparada para casa, metade da bateria no celular, metade de um maço de cigarros em meia hora. O tempo que leva para chegar em seu apartamento e verificar que sua cozinha está alagada. O cano da pia estourado, água até a metade do corredor, água descendo para a garagem. Metade de sua casa já não tinha carpete. Emputecido da vida, liga para a portaria e chama por Zecão, o porteiro faz-tudo do condomínio. Mas quem atende é Xavier, segurança noturno e dono de um diploma do ensino médio que conseguira num supletivo em meio ano:

- Ih Patrão! O Zecão tá aqui não, saiu faz é tempo! Deixou o serviço tudo pela metade aqui pra ver o futebolzinho de merda que o Palmeiras tá apresentando. Credita !?                                              
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